sábado, 6 de junho de 2009

You put a pacemaker, you learn

Decidi dividir isto do pacemaker em 2 posts para não ficar muito grande. Entretanto, o tempo vai passando e eu não vou escrevendo. E logo esta segunda parte, a mais importante.
Mais importante porque um pacemaker põe-se em meia hora mas depois... depois é que são elas. Um dia inteiro sem me poder levantar da cama e com uma rede à volta do braço, para não o mexer.
Se houve alturas em que eu teria desesperado perante esta ideia, resistido como uma pessoa a tentar livrar-se de uma camisa de forças, desta vez aceitei com naturalidade e tranquilidade. Vá, talvez a tranquilidade também viesse do calmante que me deram. Mas o efeito do calmante não dura um dia inteiro. Houve qualquer coisa de novo e surpreendente na relativa calma com que aceitei tudo. Não é fácil não ter nada para fazer, não é fácil não nos podermos mexer, não é fácil depender das enfermeiras e auxiliares. Não é fácil mas pode tornar-se mais fácil.
Toda uma rede que me amparou e não me deixou ir pelo meu desespero adentro. A minha família, os meus pais, sempre comigo desde que entrei até que saí. Não teria sido a mesma coisa sem eles. E depois voltei àquela fase de precisar que me dessem comida à boca e me alcançassem os objectos a que não chegava. Não faz mal, era só por um dia. Toda a equipa que tratou de mim, desde o pessoal de Hemodinâmica ao pessoal de Cardiologia. Pareciam conhecer-me há anos, alguns tratavam-me pelo nome. Com uma atitude de normalidade e rotina perante uma situação de doença. Como se toda a gente pusesse pacemakers todos os dias, como se fosse nornal uma pessoa de 22 anos não conseguir beber água a não ser com uma palhinha e com a cabeceira da cama articulada levantada. Humilhante? Nem por isso... O telemóvel, uma janela para o mundo! Sempre do lado direito, claro. Não, o telemóvel foi apenas o meio, o importante foi quem ligou. Foi muito bom receber telefonemas e mensagens enquanto estava deitada na caminha. E lá está, mais importante que a quantidade é mesmo a qualidade. E essa foi garantida, obrigada a todos!
E finalmente, a minha vizinha do lado. Uma senhora com Alzheimer, que já estava no hospital há 15 dias. Se no principio só ouvia grunhidos e suspiros por detrás da cortina, no dia seguinte foi muito engraçado observar melhor esta senhora, vê-la nos períodos de doença e nos de relativa lucidez, conhecer a família. Muita simpatia e empatia.
Às 21h do dia seguinte já estava sem a rede ao peito (que alívio!!!) e pronta para outra. E... onde é que está o pacemaker? Não o vi quando mudaram o penso, só mesmo a cicatriz. "Agora não apanhes muito sol aí para não ficar a marca!" Sei lá, talvez queira uma cicatriz no peito...
Tudo isto se passou no Hospital de Santa Cruz, passo a publicidade. Tenho a dizer que foi uma experiência interessante.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Pacemaker

Sim, é mesmo verdade, tenho um pacemaker. Não estou a dizer isto para toda a gente saber e ficar de boca aberta "Ah, coitadinha, tão nova! Como é que isso aconteceu?!" É mais para acabar com a especulação ("É mesmo verdade que implantaste um pacemaker?") e para partilhar, porque não?
Pacemaker: ok, se não há mesmo nada a fazer..., até vai ser engraçado, vou ser diferente das outras pessoas. AAAHHHH, uma coisa estranha no meu corpo, uma bola no meu peito, os meus decotes arruinados; esqueci-me de tudo o que aprendi sobre pacemakers, detesto hospitais; até posso morrer, se alguma coisa correr mal! Olha, que se lixe, vou ter que fazer isto.
Resumidamente foi esta a minha reacção ao longo do tempo, depois de saber a notícia.
Quando me ligaram a dizer que seria na semana seguinte... "Já? Mas não podia ser daqui a um mês?" Eu, que me estava sempre a queixar que nunca mais ligavam e que já me imaginava a descarregar a minha fúria em cima de uma funcionária do hospital!
Para um profissional de saúde, ser doente é quase surreal. É o outro lado. Já não é preciso tentar compreender aquilo que muitas vezes nos repetem durante o curso: pôr-se no lugar do doente. Espera-se e desespera-se.
Tanta ansiedade para quê? 32 minutos na sala de Hemodinâmica? Eu sei Rita, não valia mesmo a pena o stress.

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